[PT] A publicidade é a única indústria no mundo em que a palavra "criativo" não é, em primeiro lugar, um adjectivo. No dicionário, "criativo" é, à cabeça, alguém "capaz de criar, de inventar, de imaginar qualquer coisa de novo, de original, que manifesta criatividade".  Em publicidade, "criativo" é uma profissão. Como indivíduo de palavras, prefiro o dicionário. Não sou "um criativo". Num dia bom, num momento de inspiração como copywriter e director criativo, sou "criativo".
Apesar de todas as evidências apontarem para o contrário, posso ser um gato. Porque, em termos profissionais, estou a viver a minha segunda vida. Depois de muitos anos dedicados ao jornalismo musical (na imprensa, na rádio, na televisão e na internet), a publicidade encontrou-me aos 34 anos. Nunca fui, portanto, um "jovem criativo". Entrei nesta vida pela porta grande e giratória, a da BBDO. Disseram-me que era como aprender a jogar à bola na equipa principal do Barcelona. No tempo do Guardiola.  Aos 34 anos. Ainda aqui estou.
Não sou o meu portfólio. Sou o meu portfólio e tudo o que ele não mostra: a curiosidade, a inquietude, a insatisfação, o apetite por histórias, a imprevisibilidade de uma grande ideia, a sede de aprender e o privilégio de ensinar. Não sou o meu portfólio porque o meu portfólio é a combinação do que tento fazer com o que as circunstâncias e as pessoas permitiram fazer. Com uma virtude: é tudo verdadeiro. Não faço e não tolero trabalho mentiroso. 
Não ando na rua com auscultadores. Não é assim que se ouvem as pessoas.
[ENG] Advertising is the only industry in the world where the word "creative" is not, above everything else, an adjective. In the dictionary, "creative" is  someone "marked by the ability or power to create". In advertising "creative" is a job. As a man of words, I choose the dictionary.  I'm not "a creative". On a good day, in a moment of inspiration as a copywriter and creative director, I'm "creative".
Despite all the evidence pointing to the contrary, I may be a cat. That's because, professionally speaking, I'm living my second life. After many years doing music journalism (press, radio, TV and internet) advertising found me at the age of 34. Therefore, I was never a "young creative". I got into advertising through a big revolving door: BBDO. I was told it was like learning how to play football in FC Barcelona's main team. During Guardiola's era. At 34. I'm still here.
I am not my portfolio. I am my portfolio and everything my portfolio doesn't show: the curiosity, the restlessness, the dissatisfaction, the appetite for stories, the unpredictability of a great idea, the thirst to learn and the privilege to teach. I'm not my portfolio because my portfolio is the combination of what I try to do and what people and circumstances allow me to do.  With a merit: everything is true and real. I don't do and I don't tolerate fake work. 
I don't wear headphones on the street. That's not how you listen to people.